ANTES DO CALOR O DEBATE SERENO: COMO VOTARÁ NO PRÓXIMO REFERENDO SOBRE A DESPENALIZAÇÃO DA INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ?
O referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez está para breve. Polémico, o assunto, já na primeira vez que foi levado a consulta ao eleitorado gerou debates quentes e apaixonados, em alguns casos com mais ou menos demagogia e argumentos rasteiros de um lado e doutro.
Como ainda temos algum tempo antes de sermos chamados a votar, aproveitamos para lhes propor uma conversa serena sobre o assunto. Queremos saber a sua opinião e qual a decisão que tenciona dar ao seu voto.
Em conformidade, a pergunta de hoje é muito simples:
Tenciona votar sim, não ou, de alguma forma, abster-se no próximo referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez?
Com a resposta apresente-nos a razão ou as razões principais que o levam a fazer essa escolha. Naturalmente, a conversa entre os leitores é livre e também a poderemos usar para afirmar ou reforçar os nossos pontos de vista.
Como ainda temos algum tempo antes de sermos chamados a votar, aproveitamos para lhes propor uma conversa serena sobre o assunto. Queremos saber a sua opinião e qual a decisão que tenciona dar ao seu voto.
Em conformidade, a pergunta de hoje é muito simples:
Tenciona votar sim, não ou, de alguma forma, abster-se no próximo referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez?
Com a resposta apresente-nos a razão ou as razões principais que o levam a fazer essa escolha. Naturalmente, a conversa entre os leitores é livre e também a poderemos usar para afirmar ou reforçar os nossos pontos de vista.
74 Comments:
Sobre a interrupção voluntária da gravidez, ou sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez? A forma como se ordenam as palavras parecem ser de extrema importância.
Bem-haja pelo reparo, Carlos. De facto tratou-se de um lapso que já foi corrigido. Mas volte mais vezes e, sobretudo, neste assunto, partilhe connosco a sua opinião. Seguramente contribuirá para que este Largo fique mais rico e desde já agradecido por isso e por esta sua visita.
Saúde, homem, para si e todos os que lhe são queridos.
Eu voto contra. Quem não quer filhos não os faça e a lei actual já previne as excepções provenientes de acções criminosas e dos azares ao nível da saúde.
Pois. Quem não quer filhos... Mas, e o fogo ao pé da palha? Sem querer fulanizar a questão, ao «anonymous das 19.45» nunca lhe aconteceu? A mim já. Muitas vezes. E depois? Se acontecer a gravidez? Não haverá circustâncias em que assumir é impossível? Ou acha que devemos lapidar os parceiros - normalmente a mulher, claro, que na maior parte das vezes nem nos denuncia?
Somos todos falíveis e, mesmo sem me poder considerar cristão, recuso-me a atirar a primeira pedra. A primeira, a segunda e qualquer das outras.
Não seria já altura de deixarmos de andar de pedra no bolso e começarmos a olhar uns para os outros como seres humanos?
Bem, eu sou cristão, de formação católica, e jamais seria capaz de decidir-me, naturalmente em conjunto com a minha companheira, pela opção de provocar um aborto -como o Sr. Carlos logo chamou a atenção, não tenhamos receio das palavras.
Tenho dois filhos, o primeiro planeado e o segundo por erro de cálculo, mas jamais ousaria pensar em não recebê-lo com a mesma alegria que teria se tivesse sido devidamente pensado e procurado.
Mas não misturo Deus nestes assuntos que só aos seres humanos dizem respeito e no caso estamos a falar da despenalização das mulheres que abortem.
Ora ainda que eu possa reprovar moralmente aquele acto, creio já ser castigo suficiente o peso na consciência de quem transporta consigo o ónus de uma tal decisão. Se Deus a castiga, a Ele competirá a decisão e provocar as respectivas consequências. Mas eu, simples mortal, não tenho como julgar quem o faça e não me parece que as mulheres devam ser condenadas por o fazer. É verdade que não faz o menor sentido abortar só pelo facto de se não querer passar pelos trabalhos e responsabilidades de criar um filho, mas não será para esses casos que o espírito dos homens pensou na lei despenalizadora, antes para aqueles em que manifestamente são poucas ou nenhumas as condições para trazer uma nova vida a este mundo de tal forma que isso não implique mais miséria e sofrimento. Seriam muitos os exemplos que nos poderiam levar a falar neste sentido pelo que me poupo de dá-los aqui.
Assim, se for às urnas votarei pelo sim, ainda que não tenha decidido que tudo farei para lá ir.
Sr. Fernando Caiado!
Muito obrigado pelas suas palavras que basicamente dizem tudo o que se pode dizer em defesa do sim. Também votarei a favor da despenalização.
Eu voto sim e justifico com as palavras do amigo Fernando.
Votarei pelo não. A lei actual é suficiente. Não podemos usar a ivg como uma espécie de método anti-concepcional. Não faz sentido usar a defesa daquelas que são vítimas das circunstâncias para ocultar esse facto. Com isso reduziríamos a ideia de planeamento familiar a uma espécie de farsa ou de moda entre aqueles que quisessem aderir a ele, quase como se de uma fonte de culto se tratasse. E a informação disponível e a facilidade de acesso aos meios capazes de evitar a gravidez não autorizam que se defenda a legalização com o único argumento dos azares da vida. Se a lei actual não é cumprida, temos que saber porquê. Se depois da lei aprovada nunca se criaram condições para dela se tirar o máximo partido, tente-se perceber porque assim foi. Só depois de uma discussão fundamentada a esse nível e de se efectivarem as capacidades da rede pública do sistema nacional de saúde para que a lei em vigor seja respeitada, só então poderemos tentar compreender se precisamos de mais alguma coisa a esse nível. Até lá, poderemos estar a dar cobertura a um universo de negócio que tira partido da situação actual e a prepararmo-nos para não conseguirmos nada mais que legalizá-lo.
É verdade que não é defensável que as mulheres que abortam sejam penalizadas criminalmente por o fazer. Não sei como se poderia alterar isso, mas a alternativa parece-me que seria sempre a tal janela aberta para fazer do aborto uma espécie de método anti-concepcional.
Admito que posso estar errada, mas é assim que vejo o problema.
Apoiado, Professora Valéria, apoiado.
Cara Valéria:
Creio que, desde o primeiro referendo até agora, já houve tempo suficiente para nos apercebermos de que:
-nada de realmente positivo se fez para evitar o recurso ao aborto ou para demover as mulheres dessa decisão. Nem a adopção foi facilitada, nem as aulas de educação para a saúde começaram a produzir efeitos que se vejam, nem a sociedade aumentou o subsídio à maternidade - sobretudo para as mães em dificuldades.
-apesar do resultado do primeiro referendo ter sido "não", a sociedade continua a manifestar uma enorme relutância em ver condenar as mulheres por terem abortado.
E, como de facto assim é, cara Valéria, permita-me que considere que as pessoas, realmente se estão nas tintas para o problema. O que dói é ter de admití-lo. Por isso, nem se autoriza nem se condena. Varre-se para baixo do tapete. Não teria grande importância se não estivesse em jogo tanto sofrimento.
Por isso, mesmo sendo contra o aborto, a dita IVG, vou votar "sim" pela simples razão de que não tenho meios para fazer outra coisa. A Valéria tem?
Votarei sim, porque penso que a lei actual não é suficiente, e como diz a Tacci, passou algum tempo em relação ao outro referendo e nada se fez, ou o que se fez foi ou é insuficiente. E cabe a cada um a liberdade de escolha, pois a decisão de abortar não é fácil, mas em determinadas situações, sejam elas do foro psicológico, monetário, o que for, terão que ser respeitadas e dado o direito de escolha para tal acto. Com isto não estou a dizer que sou a favor, mas há casos que vão para além dos que estão descritos na lei actual. Será preferível os pais matarem seu filho com meses ou mesmo anos de idade? Abusar dele? Ou é melhor tapar o sol com a peneira, e vivermos na hipocrisia de que tudo se passa mas ninguém quer saber?
Este é um assunto de decisão tão íntima e melindrosa, pois, quem pratica um aborto de certeza não o faz de ânimo leve, deixando marcas que dificilmente se apagarão da memória da mulher, portanto não vejo como podemos falar de uma prática anti-concepcional. A lei deverá permitir um grau de liberdade à mulher para agir segundo a sua consciência e não como hoje em dia se assiste à criminalização da mulher. Coloco ainda em dúvida se um assunto desta natureza, que diz respeito apenas às pessoas envolvidas e de decisão tão íntima deveria ser motivo de referendo e condicionar de forma definitiva a sua decisão.
Não tenho nada a acrescentar às palavras de José Lopes. Eu também votarei pelo sim.
Não pude resistir ao apelo… E lá fiz uma pausa na minha pausa. Votarei sim.
Passo a explicar os meus motivos:
- Em casos de violações de onde resulte uma altamente indesejada gravidez, a mulher tem o pleno direito de interromper essa mesma gravidez. Quem tem o direito de exigir a uma mulher que ela deixe desenvolver-se no seu ventre o fruto de um acto realizado contra a sua vontade, um acto traumatizante, humilhante e que muda para sempre a vida dessa mulher?
É preciso respeitar novas vidas, e não igualmente respeitar vidas já existentes, e que serão pioradas com o nascimento dessa nova vida?
“Existe a hipótese de dar a criança para adopção”, pensam alguns, então a mulher não tem o direito de abortar porque está a desrespeitar uma vida mas tem o direito de condenar a criança a 18 anos numa instituição? É isso viver? Sem referencias paternais, sujeitos a serem abusados por monitores e supervisores, alguns ingressando numa vida de delinquência e da prostituição? É isso respeitar a dignidade humana? Para mim não é, na minha inútil opinião, se há respeito e responsabilidade por pela vida humana antes de a criança é ainda mais importante que esse respeito e responsabilidade se mantenham após o seu nascimento.
- Dizer que “com a despenalização do aborto, ainda se vão tornar mais inconscientes certos comportamentos sexuais”, não considero argumento válido, na medida em que tomar tal decisão não é fácil (a mulher encontra-se pressionada pela sua vontade de abortar e pelas convenções sociais e religiosas que contra a sua vontade) por isso se decide abortar é porque se encontra realmente desesperada, insatisfeita com a sua gravidez. Depois porque é algo extremamente intimo, envolve por completo o corpo feminino e a essência da sua feminilidade, a capacidade gerar vida no seu interior. Atribuir rótulos de “assassinas” é muito fácil quando não se passa pela situação.
- Mas supúnhamos que a mãe decide ter esse filho indesejado. Será para ele saudável crescer num ambiente onde não é bem recebido, por ele representar o símbolo maior de um acto feito contra a vontade da sua progenitora, e notar que tem um diferente dos restantes colegas de escola quiçá até dos irmãos? Sofrendo um constante terrorismo psicológico como muitas vezes ficamos a saber por noticiários, é isso o respeito pela vida e pela dignidade?
- Ilegal em Portugal, legal em Espanha. Não fazem em Portugal fazem em Espanha, e quem não faz em Espanha contrata parteiras… valerá a pena continuar com uma lei hipócrita?
Deixemos de ser um país de fachada. Abortar não é decisão que se tome de ânimo leve. Como Kant e Rousseau afirmavam não liberdade sem lei, e caso a despenalização do aborto seja aprovada (como eu espero que seja) há regras para que os abortos se possam realizar. Dogmas são dogmas, e nem com provas em contrario eles mudam, afinal ainda há quem acredite na Geração Espontânea…
É necessário frisar que sou a favor da despenalização do aborto, sou a favor que um bom uso dos métodos contraceptivos, contudo por este ou aquele motivo eles falham ou não estão presentes, mas sou antes de mais a favor da possibilidade de escolha, parece ser um direito conferidos a todos os seres humanos e neste caso particular, às portuguesas.
Errata:
"... responsabilidade pela vida humana antes de a criança nascer..."
Pela despenalização - SIM!
Sobre a questão do aborto pra já apenas vou partilhar três frases que acabaram de chegar... da Madre Teresa de Calcutá:
"O aborto é o assassinato no ventre... Uma criança é um presente de Deus. Se não a quiser dê-a para mim."
"A maior destruição da paz é o aborto, pois se uma mãe pode matar sua própria criança, o que impede de eu matar a você e de você me matar? Não há nada que impeça."
"É uma pobreza decidir que uma criança deve morrer para que você possa viver como deseja."
Com 10 semanas não é uma criança
Tenho mais dúvidas que certezas nesta matéria. Mas devo confessar que tenho aqui lido pontos de vista interessantes e serenos, como o proposto pelos animadores do debate. Não sou capaz de deixar de dar razão à Irritadinha -que estranho nome para chamar a uma pessoa- especialmente logo no primeiro ponto que aborda. Como poderemos criminalizar uma mulher nessas situações?
É o que permanecerá se o não ganhar, não é verdade?
A questão está na vida. Seja ao primeiro dia, seja à primeira ou à segunda semana, seja à décima semana é da vida humana que se trata. Da mesma maneira que não podemos admitir que se elimine uma vida não podemos autorizar que se prescinda de outra. A não ser em casos muito graves e a que a lei actual já responde.
Carlos não se percebe bem o que pretende dizer com o seu último comentário. Quer explicar melhor?
Carlos, desculpe: quando uma mulher é feita Santa como a Madre Teresa, ou a irmã Lúcia há-de ser, regra geral é porque é virgem e só sabe o que é a vida por ouvir dizer. O facto é que ela, sendo uma mulher extraordinária, como foram outros, p. ex., Albert Schweitzer, não está sempre onde é precisa. Nem compreende porque é que o ideal não substitui a realidade. A dúvida da Madre Teresa será sempre: meu Deus, por que é que as Tuas criaturas não são perfeitas? E é essa a sua própria imperfeição: a Madre Teresa, com todo o ardor da sua Caritas, o amor ao outro, nunca entendeu o pecado, ou seja (se não estou a exorbitar as possibilidades do meu entendimento) o Livre Arbítrio.
Por mim creio que o livre arbítrio não passa da obrigação de escolher.
Estamos condenados a viver, parece-me claro, e, mesmo sem nos darmos conta, a cada instante, estamos a fazer escolhas. Viver é isso, é o tempo, o que Deus nos deu para aqui estarmos. A santidade, segundo a tradição católica, consiste em «sair do tempo», resistir à tentação, castigar os apetites do corpo, tornar-se igual a si mesmo pela repetição das orações, Pai Nosso que estais no Céu... A repetição retira-nos do tempo. Da vida, portanto.
Porque é que há muito menos santas do que santos? Para além do machismo da Igreja, claro, há um factor: regra geral a mulher está mergulhada no tempo. Tem filhos, vê-os crescer, é a ela que compete por a sopa na mesa. É ela quem tem de, e sublinho, "tem de" fazer as escolhas.
A lei cai-lhe em cima, claro:
«Confessa! Porque é que não conseguiste ser Santa, hem?»
Dantes iria parar á fogueira. Agora somos mais misericordiosos: depois do enxovalho público, só tem de ir seis meses para as Mónicas. Ou qualquer outra prisão feminina.
Eu vou votar "sim", porque acho que não é justo, não é decente, não é leal para com as nossas companheiras.
Desculpem. Acho que me passei.
Um abraço para todos vocês, seja qual for a vossa opção.
Excelente comentário Tacci. Não é só na tradição católica que a santidade consiste em sair do tempo. O mesmo acontece no hinduismo em que os sadus renunciam, entre outras coisas, às riquezas materiais e às tentações da carne. Aliás, há um romance extraordinário que pretende discutir isso mesmo; se faz ou não sentido procurar a santidade na renúncia à vida. Trata-se de "O Fio da Navalha", de William Somerset Maugham -se o conseguir ler em inglês aconselho. Sem tomar partido, o Autor permite-nos precisamente pensar nesses problemas e leva-nos a perguntar se o caminho estará precisamente na renúncia ou no mergulho na vida.
Ora é na verdade muito fácil abordar este problema da interrupção voluntária da gravidez a partir de uma posição religiosa de quem busca a santidade, mas a verdade é que quer queiramos quer não e ainda que possamos ser filhos de Deus -e acredite-me Tacci que eu assim penso- nós não somos nem temos que ser santos nenhuns para que vivamos com dignidade e segundo o princípio de nada acrescentar de mal ao mundo e estender sempre uma mão ao nosso semelhante que dela precise.
Saúde para si Tacci e muitíssimo obrigado pelo exemplo de democracia que revela na sua saudação final. É com gente como você que podemos ver esperança no futuro do mundo.
Bom dia Tacci
Não costumo fazer jogo sujo como naquele caso dos adeptos do não que no último referendo colocaram nos media um desenho enganoso que pretendia confundir um feto com uma criança. Como escrevi, admito que posso estar errada, mas continuo a dizer que sem uma ampla discussão sobre aquilo que poderia ser feito com a lei vigente, não deveríamos seguir para o referendo. É verdade que não faz sentido criminalizar as mulheres que abortem e confesso que não saberia dizer qual a alternativa, mas não é isso que me faz deixar de pensar que não podemos abrir idiscriminadamente as portas à interrupção da gravidez.
Aceite os meus melhores cumprimentos, pois concordo com o comentador anterior quanto ao elevado civismo com que bvocê está a participar nesta interessante discussão.
Como é engraçado sentir uma mulher passar-se sem perder a compostura. Quer dizer, ficar com o coração mais perto da boca sem, no entanto, deixar de respeitar o seu interlucotor. Também por isso pressinto que tacci seja peudónimo feminino, embora,na dúvida, também de um anjo se possa tratar. Veremos.
Se fosse um homem, de macho orgulho, raivoso no sentir, até à distância já se ouviam os murros na mesa. Por estas e por outras é que sou um admirador confesso da natureza feminina.
Posto isto,já pode começar a estabelecer relações: Anjos e Madre Teresa de Calcutá. Todos juntos em defesa da Vida humana.
Mas vamos por partes:
1-
Quando diz que "quando uma mulher é feita Santa como a Madre Teresa, ou a irmã Lúcia há-de ser, regra geral é porque é virgem e só sabe o que é a vida por ouvir dizer",
Devo conluir que quando uma mulher é Santa e Virgem não pode saber o que é a Vida? É o mesmo que dizer que só pode saber o que é um aborto quem já passou por ele?
2-
"...nunca entendeu o pecado, ou seja (se não estou a exorbitar as possibilidades do meu entendimento) o Livre Arbítrio."
O pecado, de facto, não é a mesma coisa que o Livre Arbítrio.
3-
"É ela quem tem de, e sublinho, "tem de" fazer as escolhas."
Claro que não é só ela que tem de fazer as escolhas. Tanto que vou ser chamado a pronunciar-me sobre o assunto.
4-
"Eu vou votar "sim". Aqui parece estarmos de acordo, já que eu também votarei sim pela despenalização.
Sobre a questão do aborto em concreto ( não da penalização), para já, vou reservar o~meu direito ao silêncio.
Muito obrigado tacci por tudo. Tanto tempo que acabei por passar consigo, sem que tenha dado o gasto por desperdício. E creia, não sou dos que raramente me engano e tenho muitas dúvidas.
Faço das palavras da Irritadinha as minhas, sobretudo "“Existe a hipótese de dar a criança para adopção”, pensam alguns, então a mulher não tem o direito de abortar porque está a desrespeitar uma vida mas tem o direito de condenar a criança a 18 anos numa instituição? É isso viver? Sem referencias paternais, sujeitos a serem abusados por monitores e supervisores, alguns ingressando numa vida de delinquência e da prostituição? É isso respeitar a dignidade humana? Para mim não é, na minha inútil opinião, se há respeito e responsabilidade por pela vida humana antes de a criança é ainda mais importante que esse respeito e responsabilidade se mantenham após o seu nascimento.".
Portugal é um belo país. Pena que tenha um território tão mal tratado, mas isso resulta de masoquismo de quem aí vive. Mas o país é belo. Pena que seja um pobretana, no meio dos ricos, mas isso resulta da ignorância e da ganância de uns quantos que aí vivem. Mas belo é o país. A corrupção permanece; o investimento nacional ou estrangeiro não aumenta -lembram-se daquela promessa dos não sei quantos mil postos de trabalho?- os trabalhadores cada vez pagam mais impostos, fazem mais descontos, trabalham até mais tarde e recebem cada vez menos contrapartidas ao nível da saúde, da educação e da reforma, os salários desvalorizam e o governo e os socialistas o que é que nos põem a debater e a decidir, o aborto. Pois claro, é mesmo esse o problema que temos que resolver nos dias que correm.
Desculpem lá mas às vezes lembro-me destas coisas e não sou capaz de as calar.
Mas também é por tudo isto que eu vou votar sim. É que muitos dos que vão votar não estão a salvo das desgraças em belas clínicas no país vizinho ou até mais longe se for preciso.
Assim é que é falar. Faço minhas as palavras do Descontente. Isto do aborto é um negócio e quem o paga é quem tem que parir moços, como dizia o poeta, porque aquelas que têm meninos, quando não os querem ou não os podem querer vão a Londres, a Paris ou aqui ao lado a Espanha tratae-lhes da saúde em segredo e no silêncio que o dinheiro compra.
Vamos votar pela despenalização das outras que não têm dinheiro para estarem acima da lei.
Viva la muerte, sempre foi o grito das esquerdas.
Eu voto não ao aborto pois digo sim à vida.
José Lopes
Já faltava o argumento patético do sim à vida. Então todos os outros são pela morte. Lembremos a campanha dos grupos radicais católicos americanos anti-aborto, que na sua pretensa "defesa pela vida", não se coibiram de matar pessoas em clínicas. Esses grupos também são pela vida.
Sim pela vida... muito bem... mesmo que isso acabe por destruir duas vidas...
A minha fraca filosofia não consegue atingir patamares tão elevados de espirito...
Carla Pereira, peço desculpa mas só agora vi que me tinha dirigido uma pergunta:
Não foi um comentário,
foi a manifestação de uma intenção - votar SIM à despenalização da IVG, já que penso que é para decidir sobre isso que se vai fazer o referendo;
e uma partilha - alguém que não sabia desta troca de ideias enviou-me um mail que prestava tributo a Madre Teresa de Calcutá e eu, como achei curiosa a coincidência, decidi partilhá-lho com o Fórum, sem que isso signifique que partilho das opiniões que lá estão expressas.
Também senti que eram ideias fortes que mereciam reflexão e que iriam, por isso, enriquecer o debate.
c/ desejos de boas trocas de ideias que a todos enriqueça,
Obrigado a todos pela simpatia com se referem aos meus comentários, mesmo quando descarrilam o seu tanto. Não sei se existe uma forma de se exprimir que sugere o masculino ou, pelo contrário, o feminino e não me dou conta do que a minha sugere. (Isto da escrita feminina e masculina até podia ser um tema muito interessante para o Largo da Graça, um dia destes.)
Porém, embora pense que isso não tem grande importância, sobretudo quando se lida com ideias, devo dizer que Tacci é um pseudónimo a salvaguardar a «identidade secreta» de uma pessoa do sexo masculino, heterosexual, com filhos e já com mais anos do que os que dava jeito ter. Imaginem-me já muito curvadinho, com o queixo apoiado ao castão de uma bengala, a contemplar o fogo da lareira e a pensar, como dizia o Borges, que «também a mim, como a todos os homens desde que o mundo é mundo, me couberam tempos difíceis para viver».
E se todos estes anos que já vivi me ensinaram alguma coisa, foi que só há um verdadeiro escândalo: a dor inútil. E um só pecado: causar a dor, seja ela física, seja moral.
É claro que eu sei que não podemos evitar pisar o carreiro das formigas porque nem o vimos. Não se pode estar atento todos os minutos de todos os dias. E sei que se tem de matar para continuar a viver. Tem de se matar o joio para que o trigo cresça, não é? E se se puder matar a vitela sem sofrimento e comer os bifes... mas, se só for possível industrialmente, com uma crueldade racional (com uma racionalidade económica, entenda-se)? Não ficamos com um pecado a mais na consciência?
É por isso que eu acredito que pecado e livre arbítrio estão indissoluvelmente ligados, embora (o Carlos tem razão) não sejam a mesma coisa. Se o nosso espírito se ligar estreitamente a uma doutrina, seja ela qual for, já não há escolha. A escolha está já feita pela doutrina, pelo nosso conselheiro espiritual, pelo nosso dicionário de casos de consciência.
Daí a inocência com que um carcereiro de Treblinka pode dizer-nos que se limitou a cumprir as ordens.
Mas ele, carcereiro, é culpado de quê, no fundo? Eu penso que é culpado de não se ter imaginado no lugar da vítima, não ter imaginado o sofrimento que ia causar como o seu próprio sofrimento. Ou se o imaginou... são esses os monstros, não é?
E é por isso que eu penso que causar um sofrimento adicional à mulher que aborta, se calhar ao seu companheiro que gostaria que pudessem levar aquele filho por diante, é errado. Não podemos poupar-lhes o sofrimento próprio da decisão, que existe, sim. Não se pense que uma menina de quinze anos que vai abortar a Inglaterra levada pela mãe, vai sempre de coração alegre. E se for, devemos castigar todas as outras mulheres por causa dela?
Não parece, pois não?
Descarrilei outra vez e abusei deste espaço, desculpem. Um abraço para todos.
Carlos!
Agradeço e registo o esclarecimento.
Espero que nos encontremos mais vezes neste espaço tão interessante.
Tacci!
Que melhor defesa poderemos imaginar para votarmos pelo sim no referendo? Parabéns pelo comentário.
Mas afinal, no aborto não se trata de pôr termo a uma vida?
Pois, pois, aí é que está o problema e disso, os que incitam a votar pelo sim não falam.
Eu acho que, perante os comentários que se leêm neste blog, os autores do mesmo deveriam propôr a campanha abaixo indicada.
Em tudo isto falta amor.
AMOR.
E se não houver amor, pelo menos que haja truca-truca.
Sim, truca-truca.
Passemos das palavras aos actos.
Marquemos esta data na Agenda. Juntemo-nos todos e vamos para o truca-truca.
Todos.
Todos juntos.
E em Alhos Vedros já temos historial nesta área.
Quem não houviu falar no célebre Moinho do Julião? E da farda obrigatória para os homens, soquetes e papillon?
Haja amor!
http://www.globalorgasm.org/
Paz na terra prevista para dia 22 de Dezembro
O maior orgasmo do mundo
A proposta da organização Global Orgasm é claríssima: Vamos todos contribuir para a paz mundial através do prazer. Ao mesmo tempo.
Este orgasmo tem regras e exige sintonia e entrega total, não só com o parceiro escolhido mas com o mundo em geral
O fim da guerra e de todos os conflitos mundiais pode ser, afinal, mais fácil de alcançar do que se pensa. Falhadas que foram muitas negociações diplomáticas, o caminho para a Paz passa, calcule-se, pelo prazer. E é partindo desta premissa que uma Organização Não Governamental lança ao mundo um desafio que tem tanto de insólito como de nobre: um Orgasmo Global Sincronizado pela Paz.
E dada a dimensão da causa, este orgasmo tem regras e exige (mais do que todos os outros) sintonia e entrega total, não só com o parceiro escolhido mas com o mundo em geral.
O objectivo da Global Orgasm (ver link para a organização no final deste texto) é conseguir que no próximo dia 22 de Dezembro o maior número de pessoas tenha um orgasmo ao mesmo tempo, concentrando (durante e depois) a sua energia para pensamentos positivos a favor da Paz e do fim dos conflitos mundiais.
Na sua declaração de missão, a organização faz saber que “a combinação da alta energia orgasmica, com uma vontade intensa, tem um efeito maior do que a meditação e as orações em massa”. Tudo porque este orgasmo colectivo (se a participação for a que se espera) será capaz de injectar elevadíssimos níveis de energia positiva no campo magnético da terra. O resultado directo: a redução dos níveis violência no mundo.
Data não foi escolhida ao acaso
E para que tudo corra bem, nem a data é escolhida ao acaso. O dia 22 de Dezembro representa o solstício de Inverno, que no calendário Maia significa um «recomeço». A organização explica que esta iniciativa é à escala mundial, mas apela à especial participação dos residentes em países com armas de destruição massiva ou onde se vivam situações de conflito. Mas esclarece que o mundo inteiro é bem vindo a esta causa.
Para facilitar a sincronização deste Orgasmo Global pela Paz, a organização coloca na sua página na Internet um relógio com a contagem decrescente para o grande momento.
Por isso, que quiser contribuir para a paz no mundo pode fazê-lo daqui a 28 dias, 17 horas, 31 minutos (prazo da altura em que foi publicado este texto). Com quem quiser, onde entender, no momento em que estiver sintonizado, mas com toda a energia.
http://expresso.clix.pt/Actualidade/Interior.aspx?content_id=372786
O Cupido
O Cupido é que sabe.
Agora vem para aqui estes Cupidos atirarem areia para os olhos dos outros e desviar a cinversa daquilo que interessa e a verdade é que os adeptos do sim ainda não me esclareceram se afinal, no aborto, não se trata de pôr termo a uma vida.
Eh eh eh eh, com essa é que os deixas caladinhos que nem ratos.
Tomem lá que já abortaram.
José Lopes
Quando começa a vida?
Os anónimos desta vida tem certezas absolutas, onde nem a ciência as encontra?
Da outra vez não fui votar por causa da praia e desta não irei por outro motivo qualquer.
Tomara que nunca aconteça na minha família.
Duas pistas para prevenção: educação sexual, planeamento familiar.
Cupido, acha que há problema se eu participar sózinho ?
jm!
Por acaso dá conta que é precisamente essa uma das posições que permitiram a que a situação chegasse ao ponto a que chegou? Acha que existe coerência com aquilo que tem publicado no seu blog e que, pelo menos, aparentemente querem revelar as suas preferências? Como é jm, é tudo muito bonito no paleio e quando chega o momento de agirmos temos medo das represálias ou falamos só para não estar calados?
E já reparou como seria inteligente tomar essa sua posição na maioria das desgraças com que temos que nos defrontar na vida? Tomara que nunca nos aconteça, não é?
Pois bem jm, tomara que você nunca tenha que decidir nada de que resultem consequências para o público em geral. É que provavelmente seria do género daqueles que perante a tragédia que aconteceu na ponte de Entre-os-Rios, como medida para a resolução do caso também poria em prática o princípio do "tomara que não aconteça".
É um bom retrato do país de chico-espertos que temos vindo a construir.
Cientificamente falando com 10 semanas não é vida nenhuma.
Explique lá isso do cientificamente, Amélia. Somos todos ouvidos.
Cara "gostaria que me esclarecessem" (e "amigos"...)
Votar Sim pela despenalização, não é equivalente a votar a favor da prática do aborto.
Tanto quanto sei, e pode muito bem ser que não saiba bem, o referendo a que vamos ser chamados é sobre a questão da despenalização criminal do aborto e não sobre a legitimidade da prática do aborto.
Existem casos em que se poderá compreender muito bem a decião de abortar como serão o caso das violações, grandes degenarações genéticas verificadas no feto ém tempo útil, etc. Nestes casos a decisição, parece-me, que deve caber unicamente aos próprios.
De resto, tenho dificuldade em julgar alguém que em consciência própria, esclarecida, se decida por fazer um aborto. Por isso estou inclinado a votar pelo SIM à despenalizaão, embora esteja aberto a ser convencido do contrário.
Mas também acho que não é só a questão da despenalização que deve ser debatida. O problema deve ser aberto a um debate o mais amplo possível, mais que não seja para perceber melhor os prós e os contras.
Se der para fazer uma lista extensa de casos em que seja razoável aceitar a prática do aborto e outra em que a questão deixa de ser admissível, então aí, talvez possa mudar o sentido do meu voto.
Carla Pereira
Obrigado pelo seu comentário.
A situação a que chegámos mais que triste (porque castiga criminalmente as mulheres) é também degradante (porque conduz claramente ao banalizar da vida).
Como sou, sem dúvidas, contra estas duas coisas acho que a solução não é alterar a lei ( no futuro discutiremos as 11 ou 12 semanas) mas apostar muito mais na prevenção e na educação ( o tal "tomara que não nos aconteça", porque não podemos esquecer que há uma acção antes que envolve um homem e uma mulher adultos e responsáveis).
Eu estou um pouco como o sr. Fernando Caiado: se for às urnas vou anular o meu voto, ainda que ñão tenha decidido que tudo farei para lá ir.
Gostava que citasse as partes do meu blog (http://www.sorryformusic.blogspot.com/)que dizem respeito a este assunto.
Pelas suas (poucas) ideias neste debate espero apenas que nunca tenha a oportunidade de decidir nada que me diga respeito.
jm!
Não se façadaquilo que não é, está bem?
Ninguém disse que no seu blog se aborda este assunto. Perguntei: "Acha que existe coerência com aquilo que tem publicado no seu blog e que, pelo menos, aparentemente querem revelar as suas preferências?" Obviamente estou a referir-me aos assuntos que aborda e à forma como os aborda, à maneira de ver as coisas que aí podemos depreender e a perguntar-lhe se há coerência entre escrever, por exemplo, sobre o orgulho nacional de que fala um conto que presumo que é seu -e é agradável de se ler, digo-o com toda a sinceridade e revela um ponto de vista com o qual concordo- e a posição que expressa quando diz: "Tomara que nunca aconteça na minha família." O problema é este, não que que alguma vez tenha tomado qualquer posição no seu blog a respeito da ivg. Não acredito que não seja capaz de entender isto.
Depois é claro que estou inteiramente de acordo quanto àquilo que diz quanto à educação sexual e a prevenção e planeamento familiar.
Se não consegue aguentar uma réplica àquilo que escreve, o problema é seu meu caro.
De qualquer forma, agradeço-lhe a resposta que me deu, afinal é destas tocas de impressões que se faz este sítio a que já me habituei a visitar pelo interesse dos temas propostos e da larga maioria dos comentários, entre os quais o seu também se inclui precisamente por nos permitir contrariar o cinismo que o mesmo comporta.
Acho que todas as mulheres deviam estar educadas para saberem todos os meses quando começa e quando termina o seu período fértil.
Acho que todos os homens se deviam também preocupar com isso quando têm relações sem contraceptivos.
«CONCORDA COM A DESPENALIZAÇÃO DA INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ, SE REALIZADA, POR OPÇÃO DA MULHER, NAS PRIMEIRAS DEZ SEMANAS, EM ESTABELECIMENTO DE SAÚDE LEGALMENTE AUTORIZADO?»
É esta a questão que, em princípio, será colocada aos portugueses. Ou seja, somos chamados a responder a um apelo, a um referendo para decidir um assunto de tão grande importância.
Começo por referir que não li ao pormenor todos os comentários (por serem imensos) mas que não pude deixar de observar alguns pormenores que me deixaram um pouco assustada.
Comecemos pela questão do voto. Caro Jm, confesso que é de minha profunda admiração que se troque um direito (conquistado se bem se recorda) por um dia de sol! Ainda mais me frustra que muitos como o Sr. tenham essa mentalidade e não exerçam o seu direito e Dever enquanto cidadão português.
Adiante.
A questão em si.
Engraçado como toda esta discussão gire em torno de uma palavra – aborto. Julgo que a questão fulcral é a palavra despenalização. Sejamos realistas! Eu duvido que haja alguém a favor do aborto! E como alguém referiu, para quem tem a necessidade de o fazer tem que carregar com esse fardo na consciência para o resto da vida. Mas EU sou a favor da despenalização por vários motivos que, creio, ainda não terão sido abordados.
1- gostamos muito de falar em adopção. É tudo muito bonito se o nosso sistema funcionasse…Se os portugueses preferissem crianças/adolescentes, os quais parecem ter um prazo de validade que caduca após uns anos de vida (julgo ser dos 6-18 anos a taxa para ter uma família diminui radicalmente). E por favor não me venham dizer que temos muito boas instituições, pois tenho exemplos práticos de que não temos, para além do mais, mesmo as Associações Pró-Vida e afins gostam muito de aplaudir o seu trabalho às mães. Mas gostava de saber números certos, porque umas centenas não faz juz ao número (milhares?!) de mulheres que vão a Espanha.
2- isto abre uma outra porta. A lei que existe não passa de areia para os nossos olhos!!! E enquanto isso, continuam os relatos de mulheres que para além de rios de dinheiro que gastam ( e que, como alguém disse os “filhos” arremedeiam-se por cá, os “meninos” vão para onde o dinheiro pode salvar a família da “vergonha”), não têm o mínimo de condições higiénicas e onde autênticos carniceiros, sem o mínimo de qualificações as atendem! Não sejamos hipócritas! Esta é a realidade, porque ela não desaparece por causa desta lei, continua a existir! E este é o ponto fulcral – despenalizar, para que hajam clínicas onde existam condições (a todos os níveis) para que num acto extremo (não vale sequer colocar razões porque cada um tem as suas e quem julga está no Céu!!) a mulher tenha condição de ir para casa e viver com aquilo que praticou, e não corra o risco de se esvair em sangue antes de conseguir chegar a um hospital.
3- julgo que terá sido a Valéria que disse que «não devemos usar a ivg como uma espécie de método anti-concepcional». Para além de redutor da situação que existe em Portugal é ignorar o actual sistema que existe para se esconder atrás de uma ideia simples: defender qual das “vidas”, a da mãe (sim porque os “pais” muitas vezes nem existem, pelo simples facto de que não lhe pesa a eles!) ou da “criança”?
“Criança” esta não cientificamente provada, mas dogmaticamente defendida pela Igreja – a mesma que não aprova o preservativo, a mesma que continua a tapar o sol com a peneira em países cujo HIV/SIDA continua a alastrar a olhos vistos…(outra estória…)
O facto é que pensar sequer que uma prática evasiva e traumatizante se possa tornar um método (nem podemos usar anti-concepcional, porque JÁ foi concebido!) é ultrajante para as mulheres!
4- (…continuação - Informação: ) afinal, a informação não existe?! A Igreja enquanto instituição não deveria igualmente prestar essa informação? Não devíamos todos nós?! Aos vossos filhos, sobrinhos e afins?! Como é que podemos falar em informação quando, segundo bem me lembro, tivemos a discussão ridícula em Portugal – colocar ou não colocar caixas de venda de preservativos nas escolas -?! A resposta foi não. Curiosamente surge um novo fenómeno que preocupa a população médica – a pílula do dia seguinte, ela sim usada como método anti-concepcional e não como um último recurso, e este com repercussões que ainda são desconhecidas no longo-prazo!
Informação!? Podemos mesmo falar em informação, quando há décadas que esperamos por cadeiras de Educação Sexual? Quando nem professores especializados existem para essas matérias?! Isto é que é ridículo!!! Este país!
Querem duas visões simples deste referendo?
1- O «Não». Ninguém vai votar porque se vai para a praia, ou porque se vai passear o cão, ou porque a prima faz anos e não apetece. Os médicos, enfermeiras, e acusadas (sim porque não me lembro de ter visto nenhum homem no banco dos réus! E curiosamente são os homens que fazem “as crianças” e as mulheres que vão para a prisão!!!), continuarão a ser punidos. Espanha continuará a lucrar com os desaires portugueses (para variar), para quem possa pagar. Em Portugal vai haver gente nojenta que sem condições perpetua a carnificina às mulheres. Continuará a Não haver educação sexual. Continuará tudo na mesma. Quem beneficiou? Ahh, as “crianças”, sim... Certo.
2- O «Sim». Porque existem cidadãos que votam, ou porque em AR se decide aquilo que o povo quis ignorar. Ainda assim, a Despenalização da gravidez será uma realidade à qual o país terá de acudir. De qualquer modo, quer com sim ou não, as clínicas espanholas virão para Portugal. Em locais legalizados os médicos poderão prestar os cuidados necessários à realização de tal acto. Espera-se que toda a questão suscite uma vontade geral de mudança: educação sexual, informação NAS escolas não só sobre a temática, os riscos, sexo, contraceptivos, etc.
A verdade é que EU sou a Favor da Despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez. Não consigo sequer imaginar as razões que levam uma mulher a tal acto – não consigo julgar quem o queira fazer por razões “de ser cedo de mais”, “porque o namorado/marido não quer assumir”, “porque a família não quer essa vergonha”, ou alguém que por razões económicas, sociais, habitacionais já não tenha condições para colocar um ser (para sofrer) neste mundo.
Muitas vezes interrogo-me quantas dessas pessoas a favor do não já falaram de boca cheia, por exemplo, em relação à pena de morte – “se é culpado deve pagar”, “matou o outro, deve morrer”, e agora, quando falamos em despenalização de uma prática que existe na clandestinidade, com todas as consequências inerentes a isso, abrem a boca para dizer que não. Mas claro, esqueci que não é a mesma coisa - Uma pessoa feita e uma não feita.
Vamos continuar a ser hipócritas e a colocar no banco dos réus aquelas pobres mulheres que tiveram o azar de ser denunciadas?
Quem é a favor do Não, pode mesmo ir passear à beira-rio, porque se não querem fazer filhos não os façam, se acham que existe informação divulguem-na, se acham que existem instituições apoiem-nas, se acham que a lei que existe é suficiente para os casos que Portugal vive, fiquem em casa. Agora não cortem as pernas a quem não tem dinheiro, a quem vive atrás do sol posto e não tem água nem luz, quanto mais saber o que é um preservativo ou os dias férteis do mês, que não sabe o que é um ginecologista, que se sujeita (pelos seus motivos) a um acto violento contra si própria e ainda se vê no banco dos réus, quando deveria estar a receber auxílio psicológico ou financeiro, e não estar por entre ladras, homicidas e afins.
Obrigada.
Cláudia
Quem vai votar sim argumenta a sua posição ams não tem provar nada a ninguem quem quer saber quando começa a vida procure informação
Viva Cláudia!
Seja muito bem-vinda a este humilde blog que muito se alegra com a sua presença e com o facto implícito de ter aceite o nosso convite.
O nosso maior desejo é que volte muitas mais vezes, tantas quantas as lhe forem possíveis, pois estamos certos que, tal como agora, a qualidade com que escreve e argumenta sempre acrescentarámaior elegância a este espaço que, por isso mesmo, ficará mais bonite e interessante. Primeiro que todos, ganham os amigos que nos visitam com aquela molinha da curiosidade no fundo do peito.
Os melhores votos de saúde para si e todos os que lhe são queridos
Luís F. de A. Gomes
Sim, claro, anónimo das 12:16, sempre em qualquer estado de direito compete aos tribunais fazerem a prova do crime e o mesmo acontece nesta matéria. Está certo.
Caríssimo Luís,
Desde já o obrigada pelo convite com que me presenteou! :p Da mesma forma que tentarei passar por aqui e comentar, as vezes que me forem possíveis, queira fazer o mesmo. A partilha de informação, a troca de opiniões é muito importante.
Para todos os contemporâneos deste blog, não levem a mal o meu testamento. Mas para mim a fundamentação das nossas opiniões é fulcral, porque obriga-nos a pensar (de preferência por nós mesmos e não pelo que os outros acham) e daí desenvolvemos um sentido crítico, não podemos falar por falar, "só porque sim".
A todos um bem haja, e continuemos... :)
Beijinhos
Cláudia
Bonitas as suas palavras, Cláudia que tanto encanto acrescentam a esta casinha humilde e pessoalmente nos distinguem.
Mas de facto é este espaço que mais inteligente e interessante fica pelo efeito da sua presença e somos nós e, estamos certos disso, também os amigos que por aqui se sentam e partilham este gosto de dizer sobre o mundo que nos rodeia e esta maravilha prodigiosa que é a vida em que todos nós estamos mergulhados -verdadeira e fisicamente mergulhados nas nuances encantatórias deste oceano de ar em que nos movimentamos- numa expressão, é o "Atirei o Pau ao Gato" que goza o prazer da distinção quando nele você entra.
A melhor forma de provarmos o que acabamos de dizer é através do convite a todos os que têm participado nestas conversas para que passem pelo "Utopian Dream" e ali se entreguem à leitura do ineressantíssimo texto sobre a violência doméstica que a Cláudia generosamente oferece. Não só por tais palavras, temos a certeza que se juntarão a nós na apreciação do elevado mérito do seu blog que se afirma indubitavelmente como um espaço de cidadania coisa que a nós muito diz e por isso nos merece sempre a maior estima intelectual e cívia.
Para além do que temos a oferenda original de uma ilustração da autoria do já nosso companheiro Tacci (Portugal, Caramba! - com ligação a partir do "Atirei...") que àquele espaço, de si tão interessante, conferem a beleza que a mão artística consegue.
Aqui fica pois o convite para que atentem umpoco num texto que indirectamente até nos pode acrescentar pistas para reflectirmos neste tema sobre o qual temos vindo a conversar "No Largo da Graça".
Entretanto, para a Cláudia um bem-haja do tamanho do mundo e para todos os restantes amigos, votos de o debate continue com o interesse que parece estar a motivar.
Um grandessíssimo viva para vocês todos.
Luís F. de A. Gomes
A Cláudia fez uma defesa dramática dadespenalização de que destaco como síntese: "Agora não cortem as pernas a quem não tem dinheiro, a quem vive atrás do sol posto e não tem água nem luz, quanto mais saber o que é um preservativo ou os dias férteis do mês, que não sabe o que é um ginecologista, que se sujeita (pelos seus motivos) a um acto violento contra si própria e ainda se vê no banco dos réus, quando deveria estar a receber auxílio psicológico ou financeiro, e não estar por entre ladras, homicidas e afins."
Aqui está uma boa razão para não ficarmos em casa.
E não há mais quem defenda o não?
Não se pode defender o que não tem defesa.
"O aborto é o assassinato no ventre... Uma criança é um presente de Deus. Se não a quiser dê-a para mim."
"A maior destruição da paz é o aborto, pois se uma mãe pode matar sua própria criança, o que impede de eu matar a você e de você me matar? Não há nada que impeça."
"É uma pobreza decidir que uma criança deve morrer para que você possa viver como deseja."
Tenho estado a reler todos estes comentários, participações mais veementes umas do que outras, mas todas de grande civismo.
Caramba, temos ou não temos motivos para estar orgulhosos disso e para dar os parabéns ao Luís pelo espaço que nos soube criar?
E depois do excelente resumo que a Cláudia fez de tudo o que dissemos e, ainda, de muitas coisas que gostávamos de ter dito, que resta para debater?
Ninguém quer fazer o ponto da situação?
Por mim posso tentar contribuir com uma questão extremamente séria que alguns comentadores levantaram e a que ainda não soubemos responder.
Trata-se da questão «quando começa a vida?»
Tenho estado a pensar e parece-me que se trata de uma pergunta deslocada. A vida não começa, já começou há muitos milhões de anos e tem-se vindo a desenrolar como um contínuo. Qualquer um de nós, o nosso canito, o pardal de telhado, ou a aranha, os bacilos e os virus, somos todos partes muito pequenas desse contínuo, becos sem saída no final (ou com saída para um Além, para uma parte do contínuo de que nada sabemos, mas que gostamos, por vezes, de imaginar). Alguns de nós vão deixando a meio do nosso percurso outras ruinhas que partem ao seu destino. Como se fosse um labirinto, que só tem saída lá muito, muito para a frente.
Mas a esmagadora maioria dessa vida toda, um virus que morreu inútil porque nunca constipou ninguém, a lebrezinha que ia a correr pelos campos e que um caçador interrompeu, tudo são pequeninos becos sem saída. A vida é um contínuo desses becos em que alguns tivemos a sorte de existir de uma forma mais complexa e poder estar aqui a escrever isto num teclado qwert. É um tanto aterrador, não é? E é por isso que também é sublime.
Creio eu, claro.
Um grande abraço.
Pois,pois, a Amélia ainda não explicou isso do cientificamente, com 10 semanas não é vida nenhuma. Fram estas as suas palavras.
O problema para alguns resolve-se com uma concepção darwinista da vida: é a lei do mais forte (quero,posso e mando) e não se pensa mais no assunto.
No entanto, numa concepção mais humanista, podem surgir problemas a nível da cons-ciência kármica,não se tratando apenas de uma decisão que afecta outros mas que mexe com o mais profundo de cada ser e da sociedade (a nossa capacidade de criar ou destruir).
Intuições
Desculpem ser chato mas para mim seria assim:
Está grávida, não querem a criança.
Apoiada legalmente pelo governo e pela futura família adoptiva a gravidez seria acompanhada logo que possível, de preferência estabelecendo-se laços afectivos entre as duas famílias.
E mais atenção para a próxima.
O argumento do jm não é mau, mas parece-me simplista.
É quase como dizer que a prostituição tem de acabar e que a partir de agora quem se prostituir será entregue ao governo e para a próxima tenha mais cuidado.
Ou dizer que os fetos que resultem de violação, mesmo quando as meninas tenham doze anos, se a mãe não os quiser assumir, serão entregues ao Estado para adopção.
Ou então que a partir de amanhã iremos entrar todos no Reino dos Céus, onde se vive para sempre e muito feliz. E quem é que não quer? E porque é que se não pode?
Talvez uns quantos, uns santos, nos seus cantos, mas sózinhos...
Mas também me parece que um debate sobre a prática do aborto não poderá deixar de passar pela primazia da defesa da Vida.
Claro que a ideia necessita de ser discutida e avaliada nas variadas situações.
A prostituição não mata ninguém.
Penso que os casos de violação e de menores já estão contemplados na lei actual.
O governo serviria apenas de regulador e mediador.O pai e, sobretudo, a mãe teriam que concordar, e a maior responsabilidade com custos seria da família que adoptava.
Eu não sou mulher e não posso entender profundamente o problema,
daí que também tenha tido algumas dúvidas em expor esta ideia.
No entanto, mesmo que a ivg seja aprovada, acho que é uma ideia a explorar.
Pelos vistos, o debate acabou. Está bem.
Só mais um bocadinho.
O referendo será em Janeiro ou Fevereiro, dependente da vontade do Sr. Presidente da República que terá de o agendar.
Entretanto, aproveitando o tempo e a circunstância, pergunto a mim mesmo qual a diferença que existe entre a liberalização e a despenalização da prática do aborto.
E respondo, liberalização será IVG quando e onde se quiser, quer dizer, espaços públicos e privados de saúde; despenalização será a não criminilização das mulheres que fazem e que se sujeitam à IVG.
Será que estou certo? E o que se poderá acrescentar?
Ainda faltou dizer que, o referendo será sobre, sim ou não, à despenalização da IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez) quando feito durante as dez primeiras semanas de gravidez em estabelecimento de saúde legalmente autorizado (e de acordo com a legislação vigente). De acordo?
Carlos, a despenalização é para um certo tipo de IVG, aquele que for feito por vontade da mulher até às dez semanas em estabelecimento tal e tal. Quer dizer, unicamente, que a esse acto não corresponderá nenhuma pena. Ninguém será acusado por um acto que diz respeito, apenas, à sua consciência. A despenalização é só isto.
Na minha óptica, porém, a "liberalização" corresponderia já a um fantasma de tipo economicista: o aborto até às 10 semanas foi liberalizado, até pode haver uma firma que venha comprar fetos a $1000 para fins cosméticos, para roubar células estaminais ou pré-orgãos para transplante,sei eu lá para quê!
Não me parece que esteja em causa este tipo de liberalização, graças a Deus. Os estabelecimentos serão «legalmente autorizados», enfim, seja o que for que isto queira dizer. Mas o fantasma desta liberalização tem sido um pouco o cavalo de batalha do «não»: «Pode-se fazer tudo! Que horror!»
Mas eu continuo a pensar que é injusto penalizar um acto só por causa de possíveis consequências, muito improváveis ainda por cima.
Que mais se pode dizer?
Não sei, mas, se é verdade que não podemos endireitar o mundo, também o é que, aqui e ali podemos contribuir para minorar um bocadinho as injustiças.
Penso que isto é um máximo divisor comum das nossas opiniões.
Se não for, digam.
Abraços.
Obrigado pela resposta (e um Grande Abraço). Por mim está bem assim. Foi uma esclarecedora troca de opiniões. E até vai dar para dispensar o habitual regabofe da partidarite na disputa pelos votos. Satisfaz-me pensar que a emancipação cívica face aos poderes partidários instituídos está a passar por aqui. Bem hajam.
"Satisfaz-me pensar que a emancipação cívica face aos poderes partidários instituídos está a passar por aqui. Bem hajam."
Bem-haja também o Carlos, por estas palavras e o "No Largo da Graça" pela possibilidade que abriu para que elas fossem ditas. Um bom fim-de-semana para todos. Não tenho dúvidas em afirmar que estamos de parabéns.
Quero felicitar os intervenientes neste debate sobre um tema tão actual na sociedade posrtuguesa, que é a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
Hoje ouvi uma reportagem sobre a situação das mulheres na Turquia e, sem fazer nenhum analogia com o tema aqui em debate, lembrei-me de algumas situações que nos podem fazer reflectir.
Naquele país assassinam-se mulheres "em nome da honra".
No próximo dia 11 de Fevereiro/2007 vamos ser chamados a pronunciar-nos, em referendo, sobre o "Sim" ou "Não" à despenalização da IVG.Na minha opinião, penso que não se trata de dar o aval à banalização do aborto, ou de desrespeitar a vida. Os portugueses vão ser chamados a dizer se estão de acordo que as mulheres continuem a ir a Tribunal, e a ir parar à prisão, só porque abortaram e foram denunciadas por isso.
Em vez de recorrerem ao aborto clandestino, onde muitas morrem no anonimato, em vez do medo e da culpabilização,´são as mulheres que têm de fazer a sua opção em consciência. Tenho a certeza de que não é uma decisão fácil para nenhuma mulher, fazer um aborto. Estamos perante uma questão de dignificação das mulheres. Esta é uma questão de modernidade da nossa civilização, que não pode ser mais adiada.
Aqui estamos para agradecer as simpáticas palavras de Tacci mas a verdade é que estamos convencidos que o principal mérito que possa haver quanto ao interesse deste espaço cabe, por inteiro, a todos vós que nos visitam e aqui partilham um pouco das vossas disponibildades e saberes. Como diz o Sr. Fernando e o próprio reconhece, sois vós quem tem motivos para estarem orgulhosos e em nosso entender sois vós quem está de parabéns.
Escusado seria dizer que muito nos alegraria a vossa presença no próximo tema de conversa que contamos vir a apresentar amanhã e para o qual desde já aqui deixamos o convite.
É sempre motivo de alegria para nós podermos emanar um grande viva para todos vós.
Bem-hajam por tudo.
Luís F. de A. Gomes
Tenho imensa pena de estar em Barcelona e de n conseguir ir votar..o meu voto seria NÃO..pq??por um simples motivo sou a favor da vida..é certo q vivemos numa democracia, e q cada um deve fazer o q bem entende com o seu corpo...mas graças a Deus existem regras...da mesma maneira que n temos o direito de matar nguem, que já esta deste lado,n temos o direito de matar alguem q esta dentro de nós...eu ate percebo qd as pessoas dizem, que nguem é a favor do aborto,que só qerem ter liberdade para escolher..entao pq é q eu n hei de ter liberdade para escolher se mato o filho da mae q violou a minha filha, ou q mim...e se tiver essa liberdade...o q é q me acontece??Vou preso...1+1=2...Matar..é matar..dentro ou fora do nosso corpo!!pensem nisto..se acharem que faz algum sentido...se não avisem..q é pa eu saber se vivo ou nao em democracia..ou se em vez disso vivo numa anarquia!!
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