2007-03-04

LEMBRAM O ZECA?

Para a
Margarida,
pelo mote que nos deu.

No passado dia vinte de Fevereiro passaram vinte anos sobre a morte de José Afonso, para alguns Zeca Afonso ou, para outros, simplesmente o Zeca.
O que resta da sua memória é o que pretendemos saber.
O que é mais recordado, a obra ou o homem? O que será mais importante recordar, aquela ou o seu criador?
Faz hoje algum sentido falar em José Afonso , na sua obra e nas suas actuações enquanto homem e artista, enquanto cantor socialmente empenhado? Terá sido o Zeca um vulto importante na cultura portuguesa da segunda metade do século passado?
Há um legado do Zeca na música portuguesa? Como se manifesta? Em que podemos encontrá-lo?
E as suas músicas e sobretudo as letras, são ainda hoje audíveis as primeiras e ainda transmitem alguma(s) mensagem(ns) as segundas?
E se estivéssemos a falar de António Variações, outro cantor e figura da nossa cultura que nos abandonou há vinte anos, poderíamos colocar as mesmas perguntas?

50 Comments:

Blogger Crystalzinho said...

Devo admitir que conheço pouco da obra de Zeca Afonso, existe, no entanto, uma letra que é muito do meu agrado:

Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

Acho que as suas músicas transmitem uma mensagem que é intemporal por isso será sempre ouvida e trará enriquecimento às novas gerações.

Já o António Variações fez parte da minha juventude. Adoro as suas músicas, a profundidade das suas letras e a forma como conseguiu impor-se perante uma sociedade preconceitosa e estereotipada.
Cada um deles foi importante na nossa cultura e tanto o homem como a obra deverão ser por nós recordados.
Bjs

22:48  
Blogger no largo da graça said...

Viva Crystalzinho, benvinda sejas mais uma vez a esta praça de oliveiras, onde a tua sombra já marca a estranheza de quando não vens.
E agora mais motivos temos para repetir o gradecimento pela(s) tua(s) visita(s) pois vamos finalmente ter acesso a ligarmo-nos ao blog que fases e que só a palavra espectacular poderá descrever.
Um enormíssimo bem-haja pelas palavras tão bonitas e sábias que nos deixa e que bem estão de acordo com a luz de alguém que tanto mostra para nos oferecer e que só pode ter todos esses ornamentos a embelezar o interior que traz no peito.
Da primeira vez que nos visitou, por qualquer motivo que nos escapa não conseguíamos aceder ao seu sítio, mas agora que o fizemos, não podíamos deixar de repetir as nossas palavras de agrado pelas suas visitas.
Um resto de bom Domingo para si e uma semana encantada, com muita paz e saúde, para si e todos os que lhe são queridos
Luís F. de A. Gomes

23:26  
Anonymous Anónimo said...

Um grande beijo para ti Luís, por este tema.
Importa recordar José Afonso, o homem e a obra, da mesma maneira que importa fazê-lo com o António Variações. Concordo, neste aspecto, com a "Crys". Este último trouxe-nos a inquietação da afirmação da personalidade perante os preconceitos em tempos que não estavam preparados para o escutar e aceitar e aí o António foi capaz de abrir e percorrer um caminho que só foi curto devido à doença traiçoeira. O Zeca foi importante para uma geração para quem representou uma espécie de grito pela liberdade em tempos de pensamento censurado e vidas encarceradas. Mas quanto a mim, o homem do "vejam bem que não há só gaivotas em terra", deve ser recordado pelo exemplo de generosidade que constituiu a sua vida como cantor e músico em que percorreu o país praticamente de lés a lés quase sempre gratuitamente e em condições técnicas que deixariam os músicos de hoje espantados. O que isso representou é a memória da melhor mensagem que o Zeca nos deixou, aqui em Setúbal e para o Portugal inteiro, a generosidade de alguém que lutou por ideias e foi à procura de as levar à prática dando de si o melhor que tinha para dar.
Notem que eu não concordava nem concordo com as ideias que ele expressava, mas não deixo por isso de lhe tirar o chapéu por aquilo que ele foi. Até por isso o Luís está de parabéns.
Um beijo muitíssimo grande para ele

00:02  
Anonymous Anónimo said...

Era um redondo vocábulo
Uma soma agreste
Revelavam-se ondas
Em maninhos dedos
Polpas seus cabelos
Resíduos de lar,
Pelos degraus de Laura
A tinta caía
No móvel vazio,
Congregando farpas
Chamando o telefone
Matando baratas
A fúria crescia
Clamando vingança,
Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincando e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa

Obrigada Zeca, por tudo.

13:35  
Blogger Francis said...

eu tive a "sorte" de viver em setubal, nos tempos aureos de zeca afonso, e de ter uma familia que vivia perto dessa realidade.

foi visita de casa de uns tios meus, e hoje, tenho pena de não me recordar inteiramente dele e desses tempos.

17:25  
Anonymous Anónimo said...

Gosto do paralelismo entre o Zeca e o Variações. À sua maneira, tanto um como o outro foram inovadores e afirmaram uma atitude. O primeiro mais pela música e as letras que cantava, o segundo sobretudo pelo conteúdo das letras e a postura que assumia em público. Ambos lutaram contra formas de opressão; o Zeca, contra a opressão política e social dos mais fracos pelos mais fortes, o Variações contra a opressão das preferências sexuais.
A dimensão das respectivas obras não é comparável dada a curta vida artística do segundo deles.
Parabéns pelo tema, é sempre bom recordar aqueles que mais têm remado para que a cultura portuguesa viva e se renove.

22:20  
Anonymous Anónimo said...

Faz falta outro Zeca ou outros Zecas, se quiserem.
Os vampiros voltaram a sugar o sangue fresco da manada.

22:53  
Blogger Joaquim Nobre (JJ©N) said...

Quem não recorda as palavras da liberdade
O nosso maravilhoso espírito tradicional
A voz de Grândola entoando pelas esquinas
Musica popular ou protesto com verdade
Compositor notável, mestre até ao final

© JJCN

23:44  
Anonymous Anónimo said...

Confesso que não conheço a obra de José Afonso e até da sua biografia pouco ou nada sei. Ele faleceu no início da minha adolescência.
Já o António Variações era escutado por rapazes e raparaigas desse mesmo tempo. Ainda hoje gosto de muitas músicas dele e acho as suas letras intemporais. Apesar da sua curta carreira, foi uma voz e uma presença singular no panorama musical português, um vulto da música ligeira nacional do final do século vinte.
O Variações cantou um sentimento de ser português, sobretudo cantou a história de um português, ele, com a saudade e a nostalgia do fado à mistura com o cosmopolitismo possível de um mundo fechado onde viveu e cresceu.

00:00  
Anonymous Anónimo said...

Neste ano completo 21 anos, e Zeca Afonso deixou-nos à 20 anos. Podia usar a típica desculpa “não é do meu tempo, não sei, não conheço” ou ainda como muitos poderiam responder “acho que foi um ministro”. Não é o tipo de resposta que me alegre. Sei quem foi, a forma activa como colaborou para que hoje espaço como este (“Largo da Graça”) possam existir, a sua coragem determinação e uma fé inabalável em algo que acabou por se realizar.
Felizmente os meus pais sempre me incutiram a vontade de querer saber a história do meu país, e claro ao ler e estudar sobre o 25 de Abril Zeca Afonso surge como figura de destaque. Aliás faz pouquíssimo tempo que revi na RTP um espectáculo do Zeca Afonso no Coliseu, com vários amigos (convidados).
O seu estilo musical, se não estou em erro pertence ao estilo “música de intervenção”, foi muito importante pois foi uma forma de demonstrar o desagrado pela situação vivida e alimentar no espírito dos que como ele pensavam que um dia tudo mudaria, e que não podiam desistir, algo tinha de ser feito. E foi feito. Actualmente merece sem dúvida ser recordado e homenageado, mas talvez esse estilo musical já não faça tanto sentido, visto estarmos num país – teoricamente, e é sempre se ressalvar o teoricamente – com livre expressão de ideias.
Na minha opinião, o maior legado que Zeca Afonso deixou a futuras gerações foi o saber manter os valores – como coragem, determinação, humildade – a luta pelos ideais, o não pensar só no bem próprio e também no bem-estar geral. Infelizmente isto pouco se vai verificando, mas creio que será este o maior legado de Zeca Afonso, um inconformado humilde.

António Variações marcou a cultura musical, pela sua irreverência, pela sua opção sexual que, admitindo ou não, chocou a grande parte dos portugueses. Uma prova da sua qualidade enquanto compositor é que 20 anos depois os “Humanos” alcançaram grande sucesso, comprovando também que 20 anos depois a sua escrita continuava actual.

Cada um no seu estilo marcou a cultura, isso é inegável, compositores que colocavam nas suas letras “muita mensagem”.

Nenhum pode ser esquecido, por isso e respondendo à pergunta, sim lembro o Zeca Afonso e também o António Variações, não por serem “do meu tempo” mas pela obra e marca que deixaram.

Sofia Cristino

19:43  
Blogger mac said...

Ambos estes músicos, cada qual à sua maneira, marcaram um tempo, e hoje ainda se sente essas marcas. Ambos foram protogonistas duma revolução. Pena é, que no caso do Variações, a revolução cultural não foi avante, parecendo que a música portuguesa caiu num marasmo. Quanto ao Zeca, ainda hoje ao ouvir o "Grandola, vila morena", dá-me 1 emoção e vontade de lutar pelos ideiais por que ele tanto lutou...20 anos depois, essa luta ainda está por fazer.

21:49  
Anonymous Anónimo said...

Estou exactamente como o Paulo e subscrevo o que diz sobre o António Variações.
Só conheci a música de José Afonso depois da morte da pessoa e por intermédio de alguém mais velho que tinha muitos dos seus álbuns. Não posso avaliar a pessoa e a sua vida cívica que, atendendo às palavras que aqui já foram escritas e pelo que me recordo de ouvir a esse meu amigo, terá sido intensa e de respeito. Quanto às letras, é fácil reconhecer o carácter interventivo e politicamente empenhado de muitas delas e não importa se estou ou não de acordo com as mesmas. Não é assim Luís? As músicas têm o grande valor de recuperarem as sonoridades tradicionais portuguesas e o músico de criar originais a partir dessa perspectiva, com o que abriu um caminho que viria a ser seguido por muitos outros e que ainda hoje se pode ver. "Madredeus" que só conheci há pouco, é, por exemplo, boa prova disso. Mas partilho a opinião do amor que me deu a conhecer o Zeca. A sua melhor fasemusical correspondeu aos discos em que o Zé Mário Branco participou e entre esses está a obra-prima qjue e o "Venham Mais Cinco" de que o Senhor Armando nos trouxe aqui um dos seus poemas.
Boa semana para todos.

00:03  
Anonymous Anónimo said...

Zeca Afonso representou a voz daqueles que não se calaram perante a ditadura e souberam com isso manter acesa a chama da liberdade. Por isso foi senha e símbolo de Abril.

22:01  
Blogger lifeyes said...

Qualquer dos dois merece destaque, cada um de sua forma e cada um com sua mensagem.
Quanto à música gostei e gosto de ambas. Quanto aos homens posso afirmar que ambos ficaram na memória de quem possa tê-los conhecido.
O Zeca deixou-nos um belo legado musical com as suas letras carregadas de mensagem, como pessoa era excelente, os miúdos que o conheceram que o digam

22:05  
Anonymous Anónimo said...

Duas formas de cantar a liberdade?!?!
Um era comunista, o outro era gay. Está tudo dito.

22:47  
Anonymous Anónimo said...

e não fossem pessoas com os ideiais daquele comunista e daquele gay, como o valente anónimo/a referiu, não podia o mesmo anónimo/a - infelizmente - partilhar os seus preconceitos com todas as outras pessoas.

Bravo!

23:08  
Anonymous Anónimo said...

É isso mesmo Pedro.
Se o Variações deixou algum legado, esse só pode ser o da "luta" contra os preconceitos.
O Zeca lutou para que possamos estar aqui com esta conversa neste espaço que seriam impossíveis no tempo em que se prendiam os comunistas, coisa que o cantor até nunca foi.
Parabéns pelo blog, muito interessante e cheio de comentários de elevado nível.
Cumprimentos para todos os que fazem este "No Largo da Graça".

23:47  
Anonymous Anónimo said...

Cobre-te canalha
Na mortalha
Hoje o rei vai nu

Os velhos tiranos
De há mil anos
Morrem como tu

Abre uma trincheira
Companheira
Deita-te no chão

Sempre à tua frente
Viste gente
Doutra condição

Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores
Livra-te do medo
Que bem cedo
Há-de o Sol queimar

E tu camarada
Põe-te em guarda
Que te vão matar
Venham lavradeiras
Mondadeiras
Deste campo em flor

Venham enlaçdas
De mãos dadas
Semear o amor

Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores
Venha a maré cheia
Duma ideia
P'ra nos empurrar

Só um pensamento
No momento
P'ra nos despertar

Eia mais um braço
E outro braço
Nos conduz irmão

Sempre a nossa fome
Nos consome
Dá-me a tua mão

Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores

00:13  
Anonymous Anónimo said...

Em qualquer país que se preza, um homem como José Afonso é objecto de estudos e teses académicas; tem musee e casa museu para expôr a sua obra e biografia e acaba sempre por ser utilizado como fonte de atracção e promoção dos lugares onde viveu.
Nos vinte anos da sua morte, José Afonso, o homem multi-facetado, continua um ilustre desconhecido.
A tristeza que nos (des)governa só consegue manter-se no poder pelo silêncio das vozes que a poderiam pôr em causa.

13:01  
Anonymous Anónimo said...

Infelizmente, os portugueses estão ainda muito longe da situação de justiça social pela qual o Zeca lutou.
Felizmente, estão já mais abertos a aceitarem a diferença que o Variações representou.

13:40  
Anonymous Anónimo said...

O Zeca será eterno. A sua memória acompanhará os homens que lutam pela libedade e a dignidade dos homens.
Não conheço o outro de que falam.
Parabéns à Sofia e ao Luís pelo blog que fazem. É bom saber que há pessoas empenhadas como vocês. Continuem. Parabéns aos comentadores pela elevação das ideias e a educação nas conversas.
Cumprimentos para todos.

01:07  
Anonymous Anónimo said...

Dois nomes incontornáveis na música portuguesa. Cada um à sua maneira representam formas de luta pela liberdade e os direitos cívicos. Cada um à sua maneira representou formas de sentir e expressar a nossa cultura e trouxeram à música contributos que, especialmente no caso do Zeca, criaram um antes e um depois das suas obras.
Como o Sr. Carlos Abrantes escreveu, o Zeca deveria ser objecto de estudos universitários e isso só não acontece pela mediocridade da nossa vida cultural que é promovida nos circuitos oficiais.
Obrigada ao Luís por mais um tema cheio de interesse.

11:55  
Anonymous Anónimo said...

Parabéns Sofia é um orgulho ler esse teu comentário. Eu que sou de uma geração que foi considerada rasca e que podia muito bem ter sido tua professora e que nestes últimos anos tenho assistido ao maior assalto que se tem feito em algum lugar do mundo às possibilidades de um ensino decente para os filhos dos mais pobres, fico feliz por ver uma pessoa tão jovem revelar uma tão grande maturidade de pensamento e tanta vontade de aprender e partilhar o conhecimento.
Só por ti esta conversa teria valido a pena.
Patrícia

12:07  
Anonymous Anónimo said...

Olá Paulo
Os meus pais ouviam o Zeca e outros cantores que aqui poderíamos recordar, como o Zé Mário de que a Carla já aqui falou. Foi através deles que o conheci e na casa deles tenho acesso à obra completa do poeta cantor.
Ofereço-me para colmatar uma lacuna tão grave e posso enviar-te cópias de todos os álbuns que ele gravou.
Não me queres dar o teu endereço de mail?
Um beijinho
Patrícia

12:14  
Anonymous Anónimo said...

A morte
Saiu à rua
Num dia assim
Naquele
Lugar sem nome
Pra qualquer fim

Uma
Gota rubra
sobre a calçada
Cai

E um rio
De sangue
Dum
Peito aberto
Sai

O vento
Que dá nas canas
Do canavial

E a foice
Duma ceifeira
De Portugal
E o som
Da bigorna
Como
Um clarim do céu

Vão dizendo
em toda a parte
O pintor morreu

Teu sangue,
Pintor, reclama
Outra morte
Igual

Só olho
Por olho e
Dente por dente
Vale

À lei assassina
À morte
Que te matou
Teu corpo
Pertence à terra
Que te abraçou

Aqui
Te afirmamos
Dente por dente
Assim

Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá
Por fim

Na curva
Da estrada
Há covas
Feitas no chão

E em todas
Florirão rosas
Duma nação

Canção dedicada ao escultor José Dias Coelho, barbaramente assassinado pela PIDE, em Lisboa.

12:22  
Anonymous Anónimo said...

"O que faz falta é avisar a malta",
mas onde é que está a malta?

15:29  
Anonymous Anónimo said...

Olá Patrícia!
Claro que quero, mas para isso temos que pedir a colaboração do amigo Luís não é? Ele é bonzinho e vai servir de intermediário. Pode ser Sr Luís?
Agora estou interessado em descobrir José Afonso e fico de fora com o presente, muito sentido.
Beijinhos
Paulo

18:35  
Anonymous Anónimo said...

http://alfarrabio.di.uminho.pt/zeca/

Aqui podemos ter acesso às letras das canções e muita informação útil sobre a obra do Zeca.

11:12  
Anonymous Anónimo said...

Boa noite Paulo
Já enviei o meu endereço para o mail do blog. Tens acesso a ele pela Secretaria, no texto do mês de Outubro. Faz o mesmo.
Um beijo
Patrícia

22:18  
Anonymous Anónimo said...

Muito obrigada, Luís, você é um amigão.
Paulo

23:50  
Anonymous Anónimo said...

Faço minhas as palavras do Paulo.
Cumprimentos
Patrícia

23:52  
Blogger ATIREI O PAU AO GATO said...

Não é regular, mas vocês deram as credênciais necessárias para que tenhamos a certeza de estarmos entre gente de bem.
Quanto ao acto, nada a agradecer, sou eu quem tenho que humildemente me curvar perante toda a vossa generosidade que tanto contribui para alindar este espaço e conferir-lhe o interesse pretendido. À semelhança de umas boas mãos cheias de amigos, vocês são os responsáveis pelo que de bonito esta casinha humilde possa ter para oferecer a quem nela entra.
Uma boa semana para ambos, cheia de paz e saúde e já agora da beleza do encontro que, nas palavras do poeta, é uma das artes da vida.
Luís Foch

23:59  
Blogger Estudo Geral said...

O Zeca Afonso não é da minha geração, nem faz parte da minha cultura musical.

Todavia, encontro nas minhas liberdades fundamentais uma dívida para os que como ele deram a vida pela liberdade, pela luta contra a pobreza e a injustiça social.

Graças também a ele hoje já é possível ver mais longe do que no seu tempo, neste "Portugal dos Pequeninos". Por isso, dificilmente o seu espírito se poderá instalar entre as gerações mais jovens.

Mas é boa a criação do símbolo que nos permite recordar que alguém teima em ter-nos amarrados, mão-de-obra para uso privado e não nos quer a voar. Eram mais ou menos assim, os fascistas do Estado Novo.

Também creio que muitos há, que levantam o punho com o José Afonso, mas que, embora nem suspeitem, são parecidos com os outros.

09:44  
Anonymous Anónimo said...

Zeca representa uma das variantes da generosidade da partilha com o semelhante. A este nível é universal e intemporal. Por isso a sua memória deve ser preservada e deveria ser melhor tratada, como o sublinham alguns dos comentários anteriores. Neste sentido, será sempre um exemplo que uma qualquer geração futura poderá entender.

00:04  
Anonymous Anónimo said...

Como conheço mais o ícone José Afonso do que a pessoa não vou duvidar da sua generosidade na partilha. Gostei de ler a afirmação e não vou regatear. Antes, vou aceitá-la como verdadeira, porque me parece corresponder à verdade.

Mas também sei que naquele tempo se confundia facilmente intenções totalitárias com liberdade. De maneira alguma, me atrevo a dizer que tenha sido o caso.

Como sabemos, ainda hoje acontece com muito boa gente...

16:39  
Anonymous Anónimo said...

Muito obrigada pelo elogio Patricia, com curiosidade e vontade por parte dos pais, o que não irão faltar são opiniões mais conscientes que a minha. Com vontade e disponibilidade muita coisa boa se consegue, sim porque o querer é fundamental.
Cada um enriquece este belo espaço, eu apenas dei o meu pequeno contributo. É sempre bom ler as opiniões da Patricia, que tenho acompanhado nos últimos debates, onde apresenta sempre bons pontos de vista.

Sofia Cristino

21:00  
Anonymous Anónimo said...

Zeca Afonso foi, um Homem de convicções que, utilizando aquilo que de melhor sabia fazer, teve a coragem de as difundir.
Gosto ainda hoje, da musica do Zeca, cantei nos tempos que se seguíram ao 25 de Abril muitas e muitas vezes as suas canções contudo, uma coisa penso:
Zeca, foi, como escrevi anteriormente, um tipo com convicções, e que lutou por elas.
Estão correctas as convicções dele?
Pela leitura que fiz aos comentários acima, parece-me que quase todos se encontram de acordo que sim. Pessoalmente também penso que sim.
Agora, todos nós temos algo que podemos, tal como Zeca, dar à sociedade para fazer dela uma sociedade melhor. Que fazemos? Choramos agarrados à almofada pela morte do Zeca ou vamos em frente e de um ou outro modo vamos contribuir, tal com Zeca o fez, para uma melhoria da sociedade em que vivemos?

Bedm hajas Luís.

23:10  
Anonymous Anónimo said...

Sr Luís Santos

O ícone foi aquilo que os outros quiseram ver nele e aí, meu amigo, houve aqueles que viram coisas que nem estavam lá. A pessoa foi aquela que nos deu o tal exemplo de generosidade.
Tem toda a razão no que diz a respeito da confusão entre vontades totalitárias e liberdade que ainda hoje acontece. Para ser sincero, daquilo que conheci do Zeca, não me parece que ele admitisse que algum iluminado lhe viesse dizer como deveria ser usada a liberdade e muito menos como deveria viver; provavelmente em Cuba, seria um dissidente.
Mas é por acreditar que o cantor foi sincero na sua luta pela liberdade que defendo mais respeito para a sua memória.
Nestes tempos que correm em que assistimos a um assalto aos direitos fundamentais em nome da ganância mais escandalosa e descarada, faz falta falar nos exemplos de generosidade que connhecemos, até para ver se conseguimos evitar que as gerações do futuro se vejam forçadas a falar nos exemplos daqueles que deram a vida pela liberdade.
Eram neste sentido as minhas palavras e em nenhuma circunstância o quis molestar com elas.

13:18  
Anonymous Anónimo said...

Não molestou, meu amigo Jorge. Foi com prazer que li as suas palavras, mesmo no que elas se revelaram diferentes do sentido que dei ás minhas ideias. Subscrevo todas elas. Mas do que gostei mais foi da delicadeza no trato. Com pessoas assim, e com jovens a inspirarem-se em tais modelos, sem dúvida, que as esperanças no futuro ampliam-se mais ainda. Apesar dos assaltos aos direitos fundamentais a que assistimos. Mas esperemos que seja apenas uma pequena pausa no meio de uma radiosa sinfonia. Iremos torcer por isso. Abraços.

16:27  
Anonymous Anónimo said...

Isso depende de nós, caro senhor e aqui, você e os outros comentadores já fazem muito pela transmissão do gosto e respeito pela liberdade aos mais jovens e para que estes momentos menos bons tenham a devida resposta na defesa dos direitos democráticos e dos direitos mais básicos que assistem a todos os indivíduos. Mais do que torcer, já estão assim a fazer por isso.
Já é uma boa maneira de começarmos a fazer aquilo que o Sr Carlos (brocas) nos diz e muito bem.
Um abraço também para si.

21:12  
Anonymous Anónimo said...

Falarmos sobre Zeca Afonso nunca é de mais.
Pela sua pessoa, pelo seu exemplo, pelas suas convicções e valores que nos transmitiu e defendeu, Zeca Afonso deve ser referido também como uma figura do presente e do futuro.Penso que nos deixou a semente da UTOPIA, de alcançarmos uma sociedade mais justa, mais livre e sem opressão.
Conheci-o pessoalmente, era um visitante assíduo da Academia de Alhos Vedros. Sempre que podia vinha trazer-nos uma palavra de resistência sobre as injustiças da sociedade ou uma música que tinha composto sobre algo que tinha vivenciado.
Lambro-me que Grândola Vila Morena, foi aqui cantada em Alhos Vedros, quando ainda não sonhávamos que iria ser a senha do 25 de Abril.É curiso que no seu último concerto no Coliseu em Lisboa, enttre as várias localidades, não se esqueceu de mencionar Alhos Vedros.
Através da canção, enalteceu a nossa cultura, as lutas do povo, a solidariedade, a liberdade, e o inconformismo que não se cansou de nos transmitir.
Zeca Afonso nunca se resignou, penso que é um exemplo para o presente e para o futuro.
As minhas saudações a todos os intervenientes e agradecimentos ao Luís por nos ter proporcionado mais este momento de encontro.

J. Raminhos

11:34  
Blogger ESTÓRIAS DE ALHOS VEDROS said...

Este comentário foi removido pelo autor.

12:56  
Anonymous Anónimo said...

Sr Jorge Prates
Pela parte que me toca, muitíssimo obrigado pelas suas palavras e pessoalmente espero continuar a participar nestas conversas que o Luís nos propõe. Este é um espaço de cidadania que já me habituei a estimar e pelo qual nutro o máximo respeito.
Ao Sr Luís, tiro-lhe o chapéu pelo contributo que aqui dá para a afirmação dos valores da liberdade e da democracia.

19:11  
Blogger tacci said...

Tenho seguido com muito interesse esta troca de ideias (e de informação), tanto mais que, pertenci à geração de 60. Frequentemente interrogo-me sobre o que restará dos ideais do Maio de 68, em França, do movimento pacifista contra a Guerra do Vietnam, dos autores que eram Prémio Nobel na altura como o Albert Camus. E claro, da música da época, desde os Beatles à Joan Baez, do José Afonso e do Adriano Correia de Oliveira (não o esqueçam, por favor) até ao Paco Bandeira, à Amália, ao Chico Buarque e por aí fora.
Passados estes anos todos, importam muito pouco os aproveitamentos políticos circunstanciais de que foram alvo e que lhes são em grande medida alheios.
Havia muito de autêntico, de livre e de humano nestas gentes. Perderíamos ainda mais se os esquecêssemos do que se deixássemos demolir a Torre dos Clérigos para construir um condomínio fechado.
Um abraço para todos. Bem hajam por terem memória.

11:13  
Anonymous Anónimo said...

Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

12:25  
Anonymous Anónimo said...

«Trova do Vento que Passa»

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

Não é um poema dele mas foi ele que o cantou e, na minha modesta opinião, o imortalizou.
Como nos recorda o amigo Tacci, lembrar Zeca é lembrar um património inestimavel da luta pela liberdade, pela democracia, numa expressão, pela dignidade dos homens e aí,como outro exemplo de generosidade e de verticalidade, está esse monumento andante que foi o Adriano.
Obrigada Tacci por o recordares e obrigada ao amigo Luís que nos proporcionou mais um momento de elevada importância, especialmente nos tempos que correm, em que até parece que este género de conversas são esforços de blablabla. Em tempos adversos, em que se promove a ignorância ao estatuto de pensamento e se promovem figuras inenarráveis, é bom termos espaços como este.
Bom fim de semana para todos

12:39  
Anonymous Anónimo said...

Magnífico testemunho o do Joaquim Raminhos. Só por ele fica mais que justificada, a entrada do Zeca nos temas propostos para debete.

Zeca e Alhos Vedros, mais um extraordinário motivo de que Alhos Vedros e as suas gentes se devem orgulhar. Mais um bom capítulo para a necessária reconstrução do valioso património histórico e cultural da região que tem estado tão abandonado.

Devia estudar-se melhor esta passagem do Zeca por cá. Uma responsabilidade a que o poder autárquico e associativo não se devem eximir.

A recolha de testemuhos, sobretudo, orais, porque de outro tipo com interesse para a história local devem haver poucos (será que existem algumas fotos?), não deverá deixar de ser feito.

É um dos tais assuntos em que os interesses político partidários deveriam ser postos de lado, porque outros valores se levantam. Para mim, neste caso, a desunião partidária constitui uma traição ao Zeca Afonso que, tanto quanto sei, de partidário pouco tinha. Ou não?

13:32  
Blogger no largo da graça said...

Mais uma vez venho aqui expressar o encanto que são as vossas presenças e palavras que fazem desta praça de oliveiras um local de repouso e conversa.
O reconhecimento é infinito e a dívida para convosco incomensurável.
Escusado seria dizer que estão convidados para o tema que apresentaremos em acto contínuo.
Luís F. de A. Gomes

15:28  
Blogger CIDE said...

Este comentário foi removido pelo autor.

22:04  
Blogger CIDE said...

Grande Homem, grande português. Se a honestidade e fraternidade cabem a alguém, esse alguém foi (é) o Zeca Afonso.
No dia 23 de fevereiro de 1987 chivia em Lisboa. Era um dia triste! Só podia ser! O Zeca tinha deixado esta vida e com ele se perdia a voz dos que não tinham voz. Uma voz que incomodava! Uma voz questionadora, modaz e livre.
Nesse dia senti uma tristeza enorme. Algo me jazia; era já a falta do Zeca, que com as suas letras e melodias animava a malta, que com ânimo enfrentava a vida.
Volta Zeca! Se puderes reencarna; aparece no corpo de alguém ou na voz ritmada de um outro cantor da liberdade.
Voltámos a precisar de ti. Precisamos urgentemente de alguém que saiba cantar o o nosso desencanto e que mostre como é possível a liberdade... um dia.
Precisamos de alguém que saiba cantar a importância da diferença cultural e que saiba protestar contra a indiferença e contra as prisões da alma.
Precisamos de alguém que cante interrogando, que saiba fazer as perguntas necessárias.
Serias um dos elementos principal do M.F.I. Acredito que sim!

Bem-vindo Zeca Afonso!

22:08  

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