2007-09-02

A DESOBEDIÊNCIA CIVIL?

Bem, as férias acabaram e o “Largo da Graça” reabre para as conversas a que nos habituámos a ter aí, sob a sombra das oliveiras desta humilde praça de paz e liberdade.
Nas últimas semanas ocorreram vários casos que poderiam merecer a nossa atenção, mas entre eles destaco um, a respeito do qual muito gostaríamos de os ouvir.
Há duas semanas houve uma demonstração no Algarve, na propriedade privada de um agricultor de Silves, a respeito da recusa das plantações de transgénicos no nosso país, por parte de um grupo de pessoas que, alegadamente em acto simbólico, arrasaram uma pequena parte da plantação. Dizem de si que estão defendendo a saúde pública das poeiras que as maçarocas resultantes da manipulação genética provocam, para além de alertarem para os perigos do consumo desse tipo de alimentos. Perante a acção de destruição, assistimos, em plena televisão, às imagens de gente de cara tapada confrontada com a presença das forças de segurança –militares da GNR- que nada fizeram para proteger um bem alheio de um particular, com rosto, um cidadão como os outros.
Não lhes vamos perguntar a vossa posição quanto à agricultura de transgénicos, nem sobre o impacto que o consumo das produções daí resultantes possa ter na saúde pública. Também não vão questioná-los a respeito de estarem ou não de acordo com as manifestações de repúdio a estes produtos, mormente aquela que motivou esta proposta de conversa.
Antes vamos querer saber se acham que alguém tem o direito de impor o seu ponto de vista da forma como aqueles indivíduos o fizeram, isto é, pelo recurso à força e com o propósito consumado de destruírem bens legais propriedade de outrem.
Mas, mais importante, queremos saber o que pensam da actuação das forças da GNR chamadas ao local. Será que actuaram de acordo com os princípios do que deve ser um estado de direito? Acham que fizeram tudo o que estava ao seu alcance para protegerem a segurança de um dado cidadão e da sua propriedade e produção? Será que não merece qualquer preocupação uma tal actuação por parte daqueles que têm por nisso, antes de tudo, zelarem pelas liberdades públicas e para que as leis não sejam estioladas na prática dos comportamentos quotidianos?

Poderemos tomar esta acção como um caso de desobediência civil?
Enfim, interrogações que gostaríamos de ver debatidas por todos aqueles que já nos habituaram à beleza da inteligência e sensatez dos seus pontos de vista.
Desde já agradecemos a presença de todos os que tenham a generosidade de deixar as respectivas opiniões e fazemos votos para que o tema, mais uma vez, seja do vosso agrado e mereça a vossa atenta reflexão.
Bem hajam por isso e por tudo o que já deram a este espaço simples, onde as ervas agora se acastanham por entre os restos esbranquiçados das últimas margaridas.