2006-12-16

TAKE IT AS A GIFT

Vamos entrar em época de reflexão, é costume ouvir-se e como tal e porque só regressaremos com novo post em Janeiro, hoje, no lugar do debate, decidimos apresentar aquilo que para nós é a forma singela que temos para lhes agradecer as vossas existências que tanto nos apraz, nesta ínfima parcela, partilhar aqui no Largo.
Fazemos votos para que pelo menos a leitura lhes seja leve. Bem, a perguntinha da praxe não poderia faltar que é para não perdermos o jeito, mas essa está no fim da historiazinha que lhes propomos para este fim de ano, expressando o desejo de que todos vós venham a ter um dois mil e sete cheio de saúde e com trabalho e com aquela energia que nos dá força suficiente para sermos capazes de realizar os desejos mais bonitos e profundos.
A história é assim:
A MENINA DAS PEDRAS MISTERIOSAS
Para a
Paula Canena,
pelo mote que tu me deste
Era uma vez um reino onde as pessoas viviam de rostos sisudos, no que acompanhavam as vidas que levavam, sem espaços para o folguedo e muito menos para o sonho.
As gentes miúdas trabalhavam do raiar da aurora até o último suspiro do crepúsculo, comiam uns parcos alimentos a meio do dia e antes de se estenderem e do pouco que lhes restava do cansaço, era o sono o imperador que de outra forma arriscar-se-iam a que o corpo cedesse na labuta, com isso sujeitando o seu escravo às mais severas punições, não raramente levadas até a morte.
Haviam outros, mais afortunados, como os mestres e os mágicos construtores dos grandes templos do céu, ou os que sabiam gravar em tabuinhas as palavras e os pensamentos das pessoas e os doutos sábios das leis humanas e divinas e os feiticeiros que sabiam curar os males da carne e dos espíritos, ainda assim eram alguns os que viviam com maior disponibilidade para escutarem o chilreado dos campos e dos matagais.
Mas todos estavam sujeitos à impiedade dos homens de armas que se arrogavam de faustos e prerrogativas que aos comuns mortais eram interditas.
Aos visitantes, não era estranho o cruzar as cabeças decepadas daqueles que se atreviam a oporem-se aos algozes dos senhores do castelo das trevas.
É claro que o cinzento dos dias se devia à sucessão de tiranos do pior que alguma vez se imaginara poderem aparecer à face da Terra.
Tratavam-se de autênticos gigantes, cheios de força e ódio que a ninguém ocorreria defrontar e que, tendo corações de pedra e cérebros cheios de feridas e ideias perversas, mandavam pelo medo que incutiam e de acordo com a mais casuística das arbitrariedades.
Os piores deles chegavam a mandar queimar todo o cereal dos súbditos para que estes fossem obrigados a agradecer-lhes as rações que depois lhes eram oferecidas pelos ogres.
Assim, quem nascia pobre, poucas ou nenhumas possibilidades tinha para deixar de o ser e como a imensa maioria eram esses pés rasteiros, aquela era uma terra onde, nos seus rodopios, nem as borboletas brilhavam aos olhos de quem quer que fosse.
Pois bem, o pior é que aquela tragédia durava há muito muito tempo. Quarenta eram as gerações de déspotas que tiranizavam outras tantas gerações dos infelizes habitantes daqueles domínios de lágrimas e suplícios. E nada havia que permitisse indiciar que as coisas passariam a correr de um modo diferente.
Foi então que os anjos que habitavam a grande floresta impenetrável, tocados por tanto desgosto e impacientes quanto ao encontro da luz, decidiram intervir com toda a sapiência da sua bondade e pertinácia.
Através das estrelas, apuraram do abandono de um recém-nascido na orla do seu território encantado. Logo se decidiram à demanda e arquitectaram o plano de o criar para a missão de um dia levar a aventurança às desgraçadas vidas dos subjugados pelos malditos tiranetes do castelo das trevas.
Deparou-se-lhes uma menina que recolheram e acarinharam e a quem, anos mais tarde, formado um corpo são e um carácter incorruptível, entregaram sete pedras misteriosas com as quais ela haveria de cativar aqueles homens e mulheres para o gosto de estarem vivos.
“-Ide.” –Disse-lhe Gabriel com ternura. “-Com este saco nunca terás fome nem sede e com a caixinha que está lá dentro, jamais te faltará abrigo e protecção, nem vestes que te aqueçam ou refresquem. Leva estas tuas coisas e vai de aldeia em aldeia, no teu burro, para espalhares as energias das sete pedras da maneira que achares mais conveniente.”
E ela lá foi, no vagar de quem tem algo muito importante para fazer.
Chegada a um aglomerado que descendia pelo redor de uma colina encimada pela opunência de um enorme templo, sentou-se para repousar, na praça principal, e decidiu aí atirar a pedra da Fé. Tirou-a do bolso e, sem hesitar um instante, jogou-a para o alto, sequer se preocupando em vê-la desfazer-se num clarão que se expandiu em todas as direcções.
Ali permaneceu o tempo suficiente para escutar, nas bocas dos simples que, sendo os homens filhos de Deus, Criador de tudo, todos possuíam uma dignidade pessoal que só os próprios erros e crimes poderiam eventualmente delapidar.
Quando um dia, junto de uma fonte, um jovem lhe avançou esses ideais, sem que ela soubesse porquê, desintegrou-se no bolso a pedra da vitória sobre o medo.
Contente com o sucedido, deu por bem empregues as translações que ali vivera e seguiu viagem, não estranhando o clima de revolta que encontrou noutro povoado, contra o indigno costume dos mandantes dormirem a noite de núpcias com as noivas dos servos.
Talvez em face disso, não demorou em fazer uso da pedra da força de vontade e continuou a jornada.
Estava ela esperando que o jerico se alimentasse nas cercanias de um regato, quando, novamente sem aviso prévio nem causa aparente, se desfez a pedra da procura do melhor.
“-Bem.” –Pensou, para si, enquanto se erguia. “-Está na hora de atirarmos mais pedras.”
E arremessou as da responsabilidade e do respeito pelos outros.
Buscou então uma terceira aldeia onde se desapossou da pedra da sabedoria e do conhecimento, exactamente no local que elegeu para edificar uma residência permanente.
As revoluções foram passando. A donzela se fez mulher que casou e teve filhos que lhe deram descendência. Afagava o corpinho do décimo segundo neto no momento em que, a partir da sua varanda, viu o povo destituir o déspota, substituindo-o e à sua tirania por alguém que todos sabiam ser temperado e capaz de preparar o caminho a que, daí em diante, qualquer um pudesse viver em paz e segurança, ainda com as capacidades de o fazer segundo os seus próprios desígnios e de escolherem aqueles que queriam ver a mandar naquilo que era público.
E desde então, sem qualquer razão de força maior, ninguém mais foi subjugado contra a sua vontade.
No dia em que a sua alma regressou ao convívio com os anjos, minutos antes, revendo os trilhos dos seus dias, a menina das pedras misteriosas dera por satisfeita a sua existência.
Como se chamava?
Ora essa, adivinhem lá vocês o nome.

2006-12-03

UMA DÚVIDA BIZARRA?

Há jornalismo livre em Portugal?
A pergunta pode parecer um tanto ou quanto estranha e até provocatória. As liberdades de pensamento e expressão, de informação e publicação, estão consagradas na Constituição da República e protegidas por articulados legais que, deste ponto de vista, as estabelecem como algo adquirido e irreversível. Neste sentido, a liberdade de imprensa é um facto entre nós e aparentemente, pelo menos, nada há no horizonte que a ponha ou possa pôr em causa. A dúvida que lançamos pode assim parecer bizarra e descabida de todo. Ainda assim ousamos colocá-la: há jornalismo livre em Portugal?
Os órgãos de comunicação social têm liberdade para investigarem e publicarem mas será que o fazem? Será que o podem fazer? Por outras palavras, será que aqueles podem publicar tudo quanto eventualmente investiguem, podem investigar todo e qualquer assunto, toda e qualquer organização ou personalidade? Será que há poderes institucionais e/ou pessoais que conseguem subtrair-se a esses direitos naturais dos jornalistas?
Entre nós, o facto de os media mais importantes estarem na posse de grandes grupos económicos não condiciona o trabalho dos jornalistas? Podem, por isso, estar aqueles sujeitos a pressões imediatas e directas que lhes condicionem o trabalho e em última instância os levem a auto-censurarem-se quantos aos eventuais conteúdos do mesmo? Será que há quem tenha o poder para impor temas e conteúdos à produção da imprensa audiovisual ou escrita? Quer dizer, podemos identificar casos de jornalismo em que o propósito implícito é a promoção de certas figuras e interesses ou, ao contrário, a destruição de imagens de pessoas e instituições?
Enfim, há jornalismo livre em Portugal?

Eis o que desta vez lhes propomos para tema de conversa. As nossas mais vivos agradecimentos para todos os que nela participem.

2006-12-02

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